História dos Astrolábios
Balestilha

Instrumento de navegação utilizado pelo portugueses, mas sem nunca conseguir retirar a preferência ao astrolábio.
Desenho do Comandante Sousa Machado.
O astrolábio planisférico ou astronómico – etimologicamente astron labein, tomar um astro – é uma invenção grega, que derivou de uma aplicação da geometria euclidiana ao problemas práticos com que se deparavam os astrónomos da Antiguidade Clássica, atribuindo-se a Hiparo, o pai da astronomia e trigonometria, a sua invenção. Foi através dos árabes, que se introduziram na Península Ibérica, que este instrumento foi conhecido na Europa.
O instrumento era composto por um disco graduado, a madre, onde se achavam colocados várias lâminas circulares. Essas lâminas eram também graduadas à superfície das suas margens, permitindo através da alidade determinar a altura de qualquer astro. A alidade girava em torno do centro comum da madre e de todas as lâminas. Cada uma das lâminas ou discos servia para uma determinada latitude. No Sec.XI, Zarquial, um árabe da Península Ibérica, idealizou um astrolábio universal com uma só lâmina e que servia para qualquer lugar. Com o astrolábio planisférico resolviam-se, também, problemas geométricos, como calcular a altura de um edifício ou a profundidade de um poço. Era também usado em astrologia.
O desenvolvimento do astrolábio dá-se com o passar dos séculos. A partir do Século XIII, o interesse demonstrado pelo Rei Afonso X de Castela, faz com que o astrolábio seja desenvolvido em Toledo e na Sicília e que o seu uso se propague, através dos conhecimentos de sábios judeus de Montpellier, Marselha e Toulouse, por todo o mundo latino.
Na realidade, neste astrolábio existem instrumentos de medição de ângulos, tabelas e funções de cálculo semelhantes à de um computador analógico. Foi concebido para utilizações civis como a determinação da hora (solar) de noite ou de dia, eventualmente, para a determinação da latitude pelo mesmo método do astrolábio náutico e, ainda, para outras funções.
Através deste cálculo o utilizador conseguia obter diversas informações desde a distância deste ao astro, que seria utilizada com o astrolábio náutico para encontrar distâncias zenitais, à velocidade de rotação da terra, distâncias entre dois pontos geográficos, e muitos outros. O astrolábio moderno de metal foi criado por Abraão Zacuto em Lisboa, a partir de versões árabes pouco precisas.
As viagens de descobrimento ao longo da costa africana que os portugueses iniciaram no Século XV, obrigaram ao regresso a Portugal através de uma volta pelo alto mar, longe da costa; isto levou à criação de métodos de determinação da posição do navio por observações astronómicos, surgindo a necessidade de
obter, no alto-mar, a altura dos astros acima do horizonte, inicialmente a Estrela Polar.
Com o quadrante, os pilotos passaram a poder comparar as alturas da Estrela Polar, começando pelo ponto de partida e passando por vários pontos ao longo da viagem, para ajudar na localização em alto mar. Daqui partiu-se para a determinação da latitude do lugar a bordo, fazendo-se por estima, a determinação da longitude.
Passado o Equador, em 1471, na ausência da Estrela Polar levou a que os pilotos portugueses elaborassem, em 1884, uma tabela de declinações solares, o que lhes permitiu saber não só a latitude mas também a única hora do dia de que poderiam ter a certeza: o meio-dia solar.
Mas o quadrante não permitia observar o sol, pelo perigo que significava apontar o aparelho na sua direção; surge então a criação portuguesa que ficou conhecida como astrolábio náutico; sendo uma versão simplificada do planisférico ou astronómico, apenas tinha a possiblidade de medir a altura dos astros. Era formado por um disco de latão graduado na sua borda, num anel de suspensão e uma mediclina (espécie de ponteiro).
Ao contrário do astrolábio planisférico, muito delicado, o astrolábio náutico era muito robusto e pesado, de modo a que a sua verticalidade se mantivesse durante as observações, independentemente do balanço do navio. Para além de serem feitos de bronze – material bastante resistente à corrosão marinha – os astrolábios náuticos possuíam aberturas na sua superfície, para que fossem afetados os menos possíveis pelo vento.
“Pesar o Sol”, como era costume dizer-se, não era tarefa fácil. Com efeito, era necessário esperar até que o Sol atingisse o meridiano não sendo contudo, preciso que se observasse a linha do horizonte, ao contrário do que acontecia num astrolábio planisférico.
O piloto segurava o astrolábio náutico pelo anel de suspensão, à altura da cintura, e ajustava a medeclina de modo a que um raio de sol entrasse por uma abertura diminuta na sua parte superior e se projetasse numa outra abertura, na sua parte inferior. A leitura fazia-se então, no semicírculo graduado que existia na parte superior do astrolábio, obtendo-se depois, após alguns cálculos, a latitude do lugar.
Cosmógrafo-Mor

Cabia-lhe também a tarefa de aferir os instrumentos náuticos antes de serem entregues aos pilotos.
Desenho do Comandante Sousa Machado.
Agulha de Marear

Desenho do Comandante Sousa Machado.
O astrolábio náutico foi um instrumento de grande utilização nos Séculos XVI e XVII só tendo sido destronado, definitivamente, pelos aparelhos de dupla reflexão: octante e sextante.
A primeira referência documentada que existe, relativo ao uso de um astrolábio a borde de um navio é feita por Diogo de Azambuja, em 1481. A qualidade de fabrico e de regulação dos astrolábios náuticos foi, mais tarde, atribuída ao Cosmógrafo-Mor, cuja missão era a de ensinar e examinar os pilotos, os cartógrafos e o fabricantes de astrolábios, passando-lhes as respectivas cartas de mestre (certificados).
O Almirante Gago Coutinho era da opinião que o astrolábio apenas servia para medir a altura do Sol e, numa travessia Atlântica a bordo da barca Foz do Douro, demonstrou, experimentalmente, a impossibilidade de, mesmo em boas condições meteorológicas, se visarem estrelas a bordo com um astrolábio.
Foram raros os exemplares que ficaram dessa época e o instrumento caiu no esquecimento até ao início do Século XX, Luciano Pereira da Silva é, em 1917, o primeiro estudioso a relembrar e estudar este famoso aparelho, seguido, mais tarde, de David Waters que também estudou este instrumento.
É, no entanto, a partir da segunda metade do Século XX, com o desenvolvimento da arqueologia subaquática, que surgem os primeiros astrolábios náuticos entre os achados dos navios afundados. Em 1983, na obra The Mariner’s Astrolabe, de Alan Stimson, refere-se a existência de 65 exemplares em todo o mundo; até hoje já foram encontrados cerca de mais duas dúzias de instrumentos deste tipo.
Muitos dos astrolábios encontrados são de origem portuguesa, facto reconhecido por estarem assinados ou por exibirem marcas ou características que confirmam a sua nacionalidade: marcas de fabricante ou escala zenital. Efectivamente os astrolábios portugueses distinguiam-se por apresentarem uma escala angular com origem no zénite ao contrário de outros cuja escala era de altura do astro, com origem no horizonte.
No Museu de Marinha de Lisboa existem nove exemplares de astrolábios náuticos portugueses, o que constitui a maior coleção mundial em exposição permanente.